texto.textura.tecido
tessituras do espaço
sons me dizem o onde da coisa
quente e frio, vento eu
Cigarras me engrandecem
O homem, paralisa.
Do fio com nós se faz estória,
Do corte do fio o mistério
E das mãos amigas esse fio invisível me atravessa.
Habito ali o nu do mundo
Enxergo e respiro pela pele Infinita no espaço do enquanto
Puxo a costura para saber o que se aproxima – posso escrever numa foto ao invés do poema
Vejo com o corpo todo.
Experimento – Tecendo e Desfiando cega a Colônia Juliano Moreira, 16/10/2016
Ação realizada durante a Residência Artística CasaB do Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea. Pensada a partir da vivência no complexo psiquiátrico, que abrange não só hospitais e casas de apoio, mas um museu de arte, espaços de lazer da comunidade, conjuntos habitacionais de pessoas desalojadas devido a gentrificação, escola, comércios, igrejas… Nota-se aí uma fusão de diferentes contextos e ao mesmo tempo sua fragmentação: arte, saúde, educação, religião, loucura, cotidiano – cada qual tem seu espaço.
A costura vem como uma tentativa de unir estes espaços e escancarar seu caráter complexo. Acabar com a ideia dicotômica, principalmente entre razão-loucura. Do tamanho do bairro de Copacabana, a Colônia foi costurada com um fio azul, percorrendo mais de 1km até a cela onde Bispo do Rosário ficou isolado por mais de cinquenta anos. Ali, a artista vendou-se e voltou naquele que seria o mesmo trajeto – mas agora contado por outros sentidos. Perde-se a visão, perde-se o sentido, perde-se a razão? Caminho errante de texturas, cheiros e sons guiado por um fino fio azul – a linha tênue entre razão e loucura? Saiba que durante a ação essa linha de fato se rompeu…