Ação realizada durante a residência artística CasaB – Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, 2016.
Percebendo a desterritorialização, institucionalização e a busca pelo pertencimento e identificação com um Lugar por parte dos internos da Colônia Juliano Moreira, foram coletadas amostras de terra de cada parte do complexo manicomial, cada qual com suas histórias e características, muitas de resiliência, ocupação e trabalho com cultivo.
Após a coleta, que resultou no trabalho Das Terras, surge o Das terras uma.
Da onde você vem?
Eu, venho de desterros. Terras reviradas, solos nômades que se perderam nos nomes e nas datas. Amontoados de terra de várias cores e texturas e resíduos. Cada qual carrega seus grãos, coletados nos corredores riscados de saudade. Ora sozinhas, se dão aos abandonos de broto em concreto, vêem poesia em formiga trabalhando, cantam na noite escura com as cigarras. Quando se juntam, seus resíduos decantados ali no fundo – cascalhos, folhas e raízes – se reviram, se fundem, dançam.
É preciso um copo d’água para que se tornem matéria de poesia. Barro amalgamado de histórias turvas. Desterros estes que, quando abraçados, podem ter a forma que bem entenderem.
(Aos afetos – 24/10/2016)